Maria concebeu o Verbo por obra do Espírito Santo não sem ter dado antes seu prévio consentimento. José, por sua vez, deu o consentimento para ser pai Dele com todos os poderes relativos. No desígnio divino, Maria e José eram necessários para a realização da encarnação. Deus quis precisar de Maria para a encarnação e quis precisar de José para sua entrada na estirpe de Davi.
Como Deus respeita sempre a liberdade das suas criaturas, pede, por assim dizer, licença a Maria para que o “Espírito Santo desça sobre Ela” (Lc 1,35). Uma licença que Ela dá com seu livre e humilde Fiat. Assim, a relação de Maria com a Encarnação do Verbo é de natureza física enquanto deu sua própria carne a Cristo, sendo-lhe Mãe. Mas é, sobretudo de natureza moral, pela sua disposição interior de ser digna Mãe de Deus e pelo seu livre consentimento a essa maternidade.
Quanto a José, sua relação com Cristo é unicamente de natureza moral e externa, como transparece claramente nos Evangelhos de Lucas e de Mateus. Porém sua paternidade é real, e tem as seguintes características:
a) Foi predestinada e preordenada pelo Pai;
b) Como em Maria, exige disposição de santidade adequada;
c) Foi anunciada a José por um anjo que, a ele como a Maria, pede um consentimento livre e espontâneo.
Mas esses elementos de ordem moral põem José em estreita relação com o mistério da Encarnação, a ponto de esta ser a razão da sua missão e mesmo da sua existência. Seu matrimônio com Maria como condição prévia e a aceitação de sua paternidade, com o conseqüente exercício dos direitos e deveres correspondentes, põem José em relação singular e estreita com o Verbo Encarnado.
Á sua dignidade sobrenatural se deve logicamente acrescentar a sua santidade, certamente maior que em João Batista e nos Apóstolos. Maria e José têm, por assim dizer, uma santidade única e singular, correspondente à própria missão de que foram investidos.
Acredito que nada melhor do que concluir com a palavra do Papa João Paulo II na REDEMPTORIS CUSTOS (O guarda do Redentor), o Papa dá um relevo especial à figura ímpar de José nos Evangelhos. Com a palavra João Paulo II:
“Ora, no início desta peregrinação a fé de Maria se encontra com a fé de José. Se Isabel disse da Mãe do Redentor: “Bem-aventurada àquela que acreditou”, se pode, em certo sentido, aplicar esta bem-aventurança também a José, porque respondeu afirmativamente à Palavra de Deus, quando lhe foi transmitida naquele momento decisivo, José não respondeu ao anúncio do anjo, como Maria, mas fez como lhe tinha ordenado o anjo do Senhor e tomou consigo a sua esposa. Isto que ele fez é puríssima obediência da fé (cf. Rom 1,5; 16,26; 2 cor 10,5-6).
Pode-se dizer que o que José fez o uniu de maneira toda especial à fé de Maria: ele aceitou como verdade proveniente de Deus aquilo que Ela já tinha aceitado na Anunciação. O Concílio ensina: Ao Deus que revela é devida a obediência da fé, pela qual o homem se abandona totalmente e livremente a Deus, prestando-lhe o pleno obséquio do intelecto e da vontade e consentindo voluntariamente à revelação feita por Ele. A frase supracitada, que toca a essência mesma da fé, se aplica perfeitamente a José de Nazaré.
Ele, portanto, se torna um singular depositário do mistério escondido a séculos na mente de Deus (cf.Ef 3,9), como se tornou Maria depositária, naquele momento decisivo que é chamado pelo apóstolo de “Plenitude do tempo”, em que Deus mandou o seu Filho, nascido da mulher para resgatar aqueles que estavam sob a lei para que recebessem a adoção de filhos (cf Gal 4,4-5). Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria de revelar a si mesmo e manifestar o mistério da sua vontade (cf. Ef. 1,9), mediante o qual os homens por meio de Cristo, Verbo feito carne, no Espírito Santo têm acesso ao Pai e são tornados partícipes da natureza divina (cf. Ef 2,18; 2 Pd 1,4).
Deste mistério divino José é, junto com Maria, o primeiro depositário. Junto com Maria e também em relação com Maria ele participa desta fase culminante da auto-revelação de Deus em Cristo, e participa desde o princípio. Tendo sob os olhos os textos de Mateus e Lucas, pode-se também dizer que José é o primeiro a participar da fé da Mãe de Deus e que, assim fazendo, sustenta sua esposa na fé da divina anunciação. Ele é também aquele que é colocado por primeiro, por Deus, no caminho da “peregrinação da fé”, no qual Maria, sobretudo do Calvário até Pentecostes andará à frente de maneira perfeita.
A sua peregrinação de fé, José a terminará antes de Maria, isto é, antes que Maria esteja aos pés da Cruz no Gólgota e antes que Ela Cristo tornado ao Pai se encontre no Cenáculo do Pentecostes do dia da manifestação da Igreja ao mundo, nascida no poder do Espírito de verdade. Todavia, o caminho de fé de José segue esta mesma direção, permanece totalmente determinado pelo mesmo mistério, do qual ele, junto com Maria, se tinha tornado o primeiro depositário.
E diz ainda o Papa: “Mediante o sacrifício total de si próprio, José exprime o seu amor generosos para com a Mãe de Deus, fazendo-lhe dom esponsal de si. Muito embora decidido a afastar-se, para não ser obstáculo ao plano de Deus que nela estava a realizar-se, por ordem expressa do anjo ele manteve consigo e respeitou a sua condição de pertencer exclusivamente a Deus.”
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