“Em Nazaré, conforme seu costume, no dia de sábado, foi à sinagoga e
levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo
o livro, encontrou o lugar onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me
consagrou com a unção, para anunciar a Boa Nova aos pobres: enviou-me para proclamar
a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar
liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça da parte do Senhor”.
Depois, fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Os olhos de todos,
na sinagoga, estavam fixos nele. Então, começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu
esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (cf. Lc 4, 14-21; Isaías
61,1-2).
Celebrar O Ano da Fé é muito mais do
que viver 365 dias como um ano civil, não é um tempo cronológico, mas um “ano
da graça do Senhor”. É um Kairós, um tempo em que Deus através da Igreja nos
chama para si, para determinada graça que quer renovar ou derramar sobre nós em
vista de nossa conversão e de sua Vinda próxima, seguindo a necessidade dos
tempos. Segundo a Tradição, o povo Hebreu vivia a cada sete anos um ano
sabático, onde durante aquele ano, libertavam-se os presos, perdoavam-se as
dividas, e tudo que os animais e a terra produziam pertencia ao Senhor. Era um
ano de perdão e ação de graças.
Qual é a grande necessidade dos nossos
tempos? “Desde o princípio do meu ministério como Sucessor de
Pedro, lembrei a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar,
com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com
Cristo. Durante a homilia da Santa Missa no início do pontificado, disse: “A
Igreja no seu conjunto, e os Pastores nela, como Cristo devem pôr-se a caminho
para conduzir os homens fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o
Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude”
(cf. Jo 10,10). Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido
cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e
aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes
setores da sociedade devido a uma profunda crise de fé
que atingiu muitas pessoas.” (cf. Porta Fidei n°2).
“Chegando ali, reuniram a comunidade.
Contaram tudo o que Deus fizera por meio deles e como ele havia aberto a porta
da fé”. (cf. At 14,27).
Pelo Batismo em nome do Pai e do Filho
e do Espírito Santo recebemos o Dom da Fé, que nos une a Cristo
que é a PORTA para a plenitude da vida humana, pelo qual podemos nos dirigir a
Deus como Pai e está concluída com a passagem da morte para vida eterna, fruto
da ressurreição do Senhor Jesus, que com o dom do Espírito Santo quis nos fazer
participantes de sua própria glória àqueles que creem. Essa é a nossa fé! O
Batismo será o sacramento a ser renovado e vivido.
“Pelo batismo fomos sepultados com ele
em sua morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dos mortos pela ação
gloriosa do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova”. (cf. Rm 6,4).
Reavivar o dom da fé através do
encontro com a Pessoa de Cristo: Também o homem contemporâneo pode
sentir de novo a necessidade de ir como a samaritana ao poço, para ouvir Jesus
que convida a crer n’Ele e a beber na sua fonte, donde jorra água viva: Jesus
respondeu: “Todo o que bebe desta água, terá sede de novo; (cf. Jo 4, 14).
Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra
de Deus, transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da
vida, oferecidos como sustento de quantos são seus discípulos
(cf. Jo 6, 51). De fato, em nossos dias ressoa ainda, com a mesma força, este
ensinamento de Jesus: “Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo
alimento que perdura e dá a vida eterna” (Jo 6, 27). E a questão, então posta
por aqueles que O escutavam, é a mesma que colocamos nós também hoje: “Que
havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?” (Jo 6, 28). Conhecemos a
resposta de Jesus: “A obra de Deus é esta: crer n’Aquele que Ele enviou” (Jo 6,
29). Por isso, crer em Jesus Cristo é o caminho para se poder chegar
definitivamente à salvação (cf. Porta Fidei n°3).
Devemos viver este Ano da Fé abrindo o
nosso coração ao convite da Mãe Igreja, para aprofundar a nossa fé, nas
seguintes e importantes dimensões:
-A fé recebida
como um Dom gratuito fruto principal do encontro pessoal com Jesus e do
Sacramento do Batismo, que nos une a Cristo e a Sua Igreja;
- Renovar e
aprofundar o dom da Fé: através de um caminho de escuta e diálogo com Deus e
com os irmãos, pela Sagrada Escritura e pela sã Doutrina da Igreja, ouvindo os
seus pastores e os sinais dos tempos;
- Celebrar a fé:
no dia a dia celebramos a fé na oração e na celebração, principalmente dos
Sacramentos, por excelência a Eucaristia, supremo Sacramento da fé. Este é um
dos motivos do Ano da Fé. Celebrar o 50° do Concilio vaticano II na data de
11 de Outubro de 2012; Celebrar o 20° ano da publicação do Catecismo da Igreja
Católica promulgação pelo Beato João Paulo II; Celebrar o primeiro fruto deste
ano da fé, Assembleia geral do Sínodo dos Bispos neste Mês de
Outubro tendo como tema A nova evangelização para a transmissão da fé Cristã;
- Professar a fé: “Idealizou”-o
como um momento solene, para que houvesse, em toda a Igreja, “uma autêntica e
sincera profissão da mesma fé”; quis ainda que esta fosse confirmada de maneira
“individual e coletiva, livre e consciente, interior e exterior, humilde e
franca” (Disc Paulo VI). Pensava que a Igreja poderia assim retomar “exata
consciência da sua fé para reavivá-la, purificar, confirmar, confessar”
(Disc Paulo VI). As grandes convulsões, que se verificaram naquele Ano,
tornaram ainda mais evidente à necessidade duma tal celebração. Esta terminou
com a Profissão de Fé do Povo de Deus, para atestar como os
conteúdos essenciais, que há séculos constituem o patrimônio de todos os
crentes, necessitam de ser confirmados (cf. Porta Fidei n° 4).
- Testemunhar a
fé: estes conteúdos da fé “compreendidos e aprofundados de maneira sempre nova
para se dar testemunho coerente deles em condições históricas diversas das do
passado” (cf. Porta Fidei n° 4).
- Anunciar a fé:
sempre com a Igreja e enviados por Ela os cristãos conscientes e renovados na
sua fé anunciarão a Boa Nova com renovado ardor missionário atendendo aos
apelos dos nossos tempos.
Motiva-nos o Santo
Padre: Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com o
cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião
propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres
Conciliares, segundo as palavras do Beato João Paulo II, “não
perdem o seu valor nem a sua beleza. É necessário fazê-los ler de forma tal que
possam ser conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos do
Magistério, no âmbito da Tradição da Igreja. Sinto hoje ainda mais intensamente
o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que beneficiou a Igreja no
século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do
século que começa”. Quero aqui repetir com veemência as palavras
que disse a propósito do Concílio poucos meses depois da minha eleição para
Sucessor de Pedro: “Se o lermos e recebermos guiados por uma justa
hermenêutica, o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força
para a renovação sempre necessária da Igreja” (cf. Porta Fidei
n° 5).
Vamos unidos com toda a Igreja e
confiantes trilhar este caminho, atravessar esta Porta, que implica
comprometer-se num caminho que dura à vida inteira, pois “eu sei em quem
coloquei a minha fé” (cf. 2Tm 1).
“Quero confiar à Santíssima Mãe de Deus
todas as dificuldades que vive o nosso mundo na busca de serenidade e de paz;
os problemas de tantas famílias que olham para o futuro com preocupação, os
desejos dos jovens que se abrem à vida, os sofrimentos dos que esperam gestos e
escolhas de solidariedade e de amor. Quero confiar à Mãe de Deus também este
especial tempo de graça para a Igreja, que se abre diante de nós. Vós, Mãe do
‘sim’, que escutastes Jesus, falai-nos d’Ele, contai-nos sobre vossa estrada
para segui-lo no caminho da fé, ajudai-nos a anunciá-lo para que cada homem
possa acolhê-lo e se tornar morada de Deus. Amém!”. Papa Bento XVI
Fonte: Blog Canção Nova