quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O Evangelho de Marcos




Durante este ano, os Evangelhos dos Domingos Comuns são tirados do Evangelho de Marcos.  Também, no mês da Bíblia, o tema proposto para o nosso aprofundamento é “Discipulado e Missionariedade no Evangelho de Marcos”.  Por isso, convém que tenhamos uma visão geral sobre esse Evangelho.
Autor e Local:
            Tradicionalmente se atribui essa obra a João Marcos, primo de Barnabé (Cl, 4,10) e filho de Maria, uma das líderes da comunidade de Jerusalém (At, 12). Acompanhou Paulo e Barnabé no início das suas viagens, mas separou-se deles (At 13, 4-4. 13), embora o encontremos de novo junto a Paulo, quando este está na prisão (Cl 4, 10; Fm 14).
            Marcos foi o primeiro dos quatro Evangelistas a escrever, provavelmente ao redor do ano 70, ou em Roma, ou na Galiléia – não há consenso entre os estudiosos.  Tem o grande mérito de ter escolhido o termo “Evangelho” para a sua obra (Mc 1,1), e assim nos dá uma dica importante sobre a nossa maneira de ler e refletir sobre o escrito.  Pois o termo, que vem do grego, quer dizer “Boa Notícia”. No tempo de Marcos era um termo bastante usado pelo Império Romano, muitas vezes para anunciar o nascimento de um filho do Imperador – pois o Império queria reforçar a idéia que o Imperador era bondoso, protetor do povo, fiador da paz e até Salvador e Senhor.  Quando Marcos escolhe esse termo, ele está, contestando todo a base ideológica do Império opressor, pois afirma que ele vai contar “A Boa Notícia (Evangelho) de Jesus, o Messias, o Filho de Deus!”  A Boa Nova não vem de um império explorador do povo, nem de César, mas de Deus, através de Jesus, que mostra presente o Reino de Deus no meio do povo sofrido.
            Então devemos ler o Evangelho com essa idéia sempre nas nossas mentes – não é “biografia” de Jesus, nem “reportagem” sobre Jesus, mas a “Boa Notícia de Jesus”.  A pergunta que deve sobressair quando lemos um trecho não é se aconteceu o evento literalmente como está contado, mas “onde está a Boa Notícia de Jesus para nós hoje, nesse texto”.  Assim evitaremos discussões fúteis sobre coisas secundárias e descobriremos o que o evangelista quer nos transmitir.
Motivo do Escrito:
O escrito é destinado aos cristãos já da segunda e terceira gerações.  Jesus foi morto e ressuscitado mais ou menos quarenta anos antes, e notava-se certa vacilação na fé dos cristãos diante dos sofrimentos da vida e um resfriamento na sua adesão à vivência do discipulado.  Assim Marcos quer conduzir os seus leitores e ouvintes a aprofundar duas questões fundamentais interligadas – “Quem é Jesus?” e “O que significa ser discípulo/a dele?”  Todos os relatos e narrativas do escrito nos conduzem para que possamos responder essas perguntas com mais clareza, e continuar a seguir Jesus pelo caminho hoje.  Tenhamos essas perguntas na cabeça quando lemos e refletimos o Evangelho, ao longo desse ano.
Um Evangelho é uma obra literária, e como tal tem uma estrutura a serviço da mensagem que deseja transmitir.  Como Marcos quer levar os seus ouvintes/leitores a clarificar duas perguntas básicas, “Quem é Jesus?” e “O que é ser seu discípulo/a?”, ele organiza o seu material em função desta meta. Olhemos uma possível estrutura do Evangelho:
 A obra inicia-se com uma introdução, Mc 1,1 -15, que situa Jesus no tempo de João Batista, com o Batismo de Jesus no Jordão, quando ele recebe a assume a identidade e missão do Servo de Javé: “Tu é o meu Filho (= Servo), em ti encontro o meu aprazo” (I, 11).  Assim, Marcos nos indica uma chave importante para entender Jesus – a espiritualidade do Servo de Javé, especialmente como ensinado pelo profeta Segundo Isaías (os quatro Cantos do Servo).  Também, de uma maneira sucinta ele proclama o cerne da pregação e atuação de Jesus: “O tempo já se cumpriu, o Reino de Deus está próximo; Convertam-se e acreditem na Boa Nova” (I, 15).
Continuando, Marcos divide a primeira parte da sua obra em três blocos, a saber:
(I)                 1 16 - 3, 6, que podemos descrever com a frase “As autoridades não entendem Jesus”.
(II)              3,7 - 6, 6ª, que podemos intitular “Os familiares não entendem Jesus”.
(III)            6, 6b – 8, 21 que demonstra que “Os discípulos não entendem Jesus”
Assim, de uma maneira bem pedagógica, Marcos leva o leitor a pensar: “se nem as autoridades, nem os familiares, nem os Doze entenderam Jesus, apesar de acompanhá-lo, ouvi-lo e observá-lo, será que eu o compreendo? Ou deverei mudar a minha visão de Jesus e do seu seguimento?”
            Com isso chegamos ao centro do Evangelho, ao redor de que gira o documento todo.  Podemos delimitar essa parte como sendo Mc 8, 22 a 10, 52.  É um bloco coeso, pois usa um instrumento conhecido como “inclusão”, quando um texto começa e termina com histórias bem semelhantes.  Esse bloco começa com a cura de um cego (8, 22-26, em Betsaida) e termina com a cura do cego Bartimeu (10, 46-52).  No meio deste bloco encontramos o texto central, o pivô do Evangelho, em Mc 8, 27-35.
            Diante da falta do entendimento dos três grupos acima citados, Jesus agora muda de tática – ele não anda mais com as multidões, mas se dedica à formação dos discípulos.  Também praticamente desiste dos milagres – depois da cura do Bartimeu só tem mais um, a cura do menino epilético em 9, 14-24.  O resto do Evangelho é uma caminhada até Jerusalém.  Nesse caminho, Jesus procura formar os discípulos.
            No caminho, ele os provoca, perguntando quem era ele na opinião dos outros.  Vem muitas respostas, pois é o “diz que” – e não compromete.  Mas Jesus não deixa por menos – pergunta “e vocês, quem dizem que sou?”.  Somente Pedro se arrisca a responder, “Tu é o Cristo (Messias)”.  Parece que acertou, mas logo Jesus desmascara o erro de Pedro (e dos outros) quando ele mostra que ser Cristo é ser perseguido por causa da coerência com o projeto do Pai, até a morte. Pedro não aceita isso, pois para ele ser Cristo é ter poder, dominar, ser triunfante nos moldes desse mundo, e remonstra com Jesus. Jesus dirige a ele uma das frases mais duras da Bíblia: “Fique atrás de mim Satanás, pois você não pensa as coisas de Deus, mas dos homens” (8 33).  Depois de ter explicado o sentido de ser o Cristo, ele explicita o que quer dizer ser discípulo/a dele: “Se alguém quer me seguir, renuncie-a si mesmo, tome a sua cruz e me siga “(8, 34)”“.
            Assim Marcos consegue resumir as respostas às duas perguntas fundamentais de todo cristão. Deixa claro quem é Jesus, qual é a sua missão e o seu destino, e as exigências do discipulado.  Desta forma ele leva os seus leitores hoje a aprofundar as mesmas questões.  Será que realmente compreendemos Jesus, ou somos como as autoridades, os parentes e os Doze, com uma visão errada dele?  Estamos prontos para segui-lo, com as exigências que ele propõe?  Ou preferimos um Jesus que nós mesmos projetamos que não mexe com a nossa vida, o nosso mundo, a nossa sociedade, e cujo seguimento não tem conseqüências práticas para a nossa vida no dia-a-dia?  Marcos nos leva a refletir se nós não somos como Pedro, neste texto, pensando não conforme a visão de Deus, mas dos homens?
A Segunda Parte do Evangelho:
Desde o Capítulo 8, Jesus e seus discípulos estão “no caminho” – uma caminhada que leva desde Cesaréia de Filipe até Jerusalém e o grande conflito, que terminará na paixão, morte e Ressurreição de Jesus. Um momento importante nessa caminhada é o momento da Transfiguração (a tradição a localiza no Monte Tabor) em 9, 2 – 11.  A chave de leitura desse evento está nas primeiras palavras: “seis dias depois”, ou seja, seis dias depois do anúncio da sua futura paixão, morte e ressurreição.  Portanto, a Transfiguração tem ligação íntima com o destino de Jesus.  Isso é reforçado pelo fato que ele leva consigo Pedro, Tiago e João, os mesmos que vão com ele em Getsêmani.           Na Transfiguração, aparecem com Jesus as figuras de Moisés e Elias.  Não quaisquer personagens do Antigo Testamento, mas Moisés, considerado pai da Lei, e Elias, o pai do profetismo – e devemos lembrar que a Lei e os Profetas significam as escrituras judaicas.  Assim, Marcos mostra que Jesus está na continuidade da grande tradição das Escrituras e que segui-lo é ser te fiel com a tradição judaica.  Pedro gostaria de ficar na montanha, num momento tão gostoso, mas Jesus os leva para baixo, pois devem continuar o caminho até Calvário.
A partir de Cap 11, estamos na Semana Santa.  Marcos dá seis capítulos aos eventos desses dias, quase 40% do seu Evangelho (em comparação com Lucas que dedica só 20%).  O texto destaca três gestos proféticos de Jesus nesses dias: a sua entrada em Jerusalém, a maldição da figueira e a expulsão dos vendilhões do Templo. Para que entendamos bem o sentido do gesto profético de Jesus na sua entrada, seria bom relembrar um trecho do profeta Zacarias: “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de uma jumenta... Anunciará a paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar, do rio Eufrates até os confins da terra” (Zc 9, 9-10). Zacarias traçava as características do verdadeiro messias - seria um rei, mas um rei “justo e pobre”; não um rei de guerra, mas de paz! Estabeleceria uma sociedade diferente da sociedade opressora do tempo de Zacarias (e de Jesus, e de nós) - onde poderosos e ricos oprimiam os pobres e pacíficos! Um rei jamais entraria em uma cidade montado em um jumento - o animal do pobre camponês, mas em um cavalo branco de raça! Então Jesus, fazendo a sua entrada assim, faz uma releitura do profeta Zacarias, e se identifica com o rei pobre, da paz, da esperança dos pobres e oprimidos!
            A história da figueira que seca (11, 12-14. 20-23) está ligada ao destino do Templo.  Como a árvore, que era frondosa, mas não alimentava, assim é o Templo e seus ritos, bonitos, mas que não alimentavam o povo no seu encontro com Deus.  Assim, como a figueira seco, o Templo será destruído.
            Derrubando as mesas dos cambistas e dos vendedores de pombas, Jesus está simbolicamente impedindo o funcionamento do Templo.  Ele não está contra o Templo nem os ritos, mas contra o abuso do poder religioso pelas autoridades do Templo, que fizeram dele “um covil de ladrões”.  Ora, o covil não é onde os ladrões roubam, mas onde se escondem.  Assim Jesus denuncia a exploração do povo pelas autoridades, que escondem a sua opressão através do abuso do nome de Deus.
            Esse último gesto foi a gota de água para que as autoridades reagissem.  Entenderam muito bem que o ensinamento de Jesus – que o povo esta aceitando com muita alegra – ameaçava o seu poder.  Assim houve conluio entre o poder religioso, político, judiciário e econômico para acabar com Jesus e o seu movimento.  O desfecho acontece na noite de quinta feira e na sexta feira.  Marcos nos conta de uma maneira objetiva e sem rodeios o que aconteceu.  Jesus é fiel até o fim – ele nos salva, não pelo sofrimento e dor, pois o Pai não é sádico – mas pela fidelidade até o ponto de entregar a vida.  Embora se sentindo abandonado por todos, e até pelo Pai, ele ainda confia.  Marcos nos conta: “Jesus deu um forte grito e expirou” (15 37).  Para a nossa surpresa, agora, pela primeira vez no Evangelho, um homem declara a verdadeira identidade de Jesus: “O oficial do exército, que estava bem na frente da cruz, viu como Jesus havia expirado, e disse: “De fato, esse homem era mesmo Filho de Deus”!” O que as autoridades, os familiares e os discípulos não foram capazes de descobrir através dos milagres de Jesus, um pagão descobre “vendo como expirou”, e lembremos, ele expirou com o grito “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (v 34).  Assim Marcos nos ensina que, se quisermos descobrir o Filho de Deus, não devemos correr atrás de milagres e poder, mas olhar para a figura abandonada e sofrida da cruz, fiel até o fim.  Esta fidelidade é o desafio para todos os cristãos de hoje.
             A história não podia terminar assim – seria uma derrota.  E não terminou.  Pois, sem que alguém esperasse, Jesus é ressuscitado dos mortos.  Jesus venceu a morte para sempre.  A cruz vence a espada, a fraqueza de Deus é mais forte do que a força dos homens.  O jovem vestido de branco nos diz como encontrar-nos com o Ressuscitado: “..vão para a Galiléia...lá o verão”(cf 16,7).  “Ir para a Galiléia” significa voltar à prática de Jesus, pois foi na Galiléia, entre os pobres, doentes e sem-voz, que ele demonstrava o amor, a compaixão e a misericórdia do Pai.  Nós, para que sejamos discípulos/as dele, devemos “voltar para a Galiléia”, ou seja, praticar as obras de Jesus, fazer as mesmas opções, caminhar nas suas pegadas, seguindo o nosso Salvador, Ele que “andou por toda a parte, fazendo o bem” (At 10,38).
Pe. Tomaz Hughes SVD

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

JOGUEMOS LUZES EM NOSSA INTERIORIDADE.

 
 
 
 
Afinal, ela é alimentada apenas de luz, muita luz!
Sem luz, nosso interior fica: como o dia sem sol, estrada sem sinais, avenida sem semáforo, rio sem água, fogueira sem lenha, cobertor curto na noite... fria, fruta não amadurecida, ave que não pode voar, flor que não desabrocha, canto sem ritmo, sala sem flores, vela apagada, despensa vazia, dia sem trabalho, oração sem Deus, Deus sem o próximo, próximo sem fraternura, vida sem sabor, sabores diversos sem vida! Jogar luz na interioridade é sair da “caverna”. A melhor filosofia nos ensina, que somos libertos quando saímos da caverna, do escuro.
“Cuide bem da LUZ Que habita em ti” – Lc 11,35 Amém!

VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA!




A Vida Religiosa e Consagrada vai sempre na contramão de tudo, menos de Deus. Na verdade ela precisa alimentar-se do puro evangelho de Jesus Cristo, caso contrário não é mesmo Vida Religiosa. Só é Vida Religiosa quando também:
- Coloca SAL nas relações, dando novo sabor à humanidade;
- Quando se faz LUZ para todos e todas;
- Quando é FERMENTO e propicia que as consciências sejam       
   de fato reinocêntricas e voltadas à verdade e ao amor;
- Quando busca a unidade e equilíbrio em toda a criação e que
  sabe-se sempre dependente do Espírito do Criador;
- Quando aprende e vive a humildade da semente;
- Quando se faz todos os dias vida samaritana e cura as dores e
   unge as feridas dos machucados, sem preconceitos e perguntas;
- Quando, como Maria de Nazaré, canta um hino de louvor associado à profecia, elevando os pobres e condenando os que fazem sofrer a vida e os viventes;

PARABÉNS A ESSAS MULHERES 
E ESSES HOMENS
QUE APRESENTAM 
 JESUS VIVO E AMOROSO
À HUMANIDADE DESTE TEMPO!


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Amor: processo de continuidade



Sempre que escutamos a Palavra do Senhor, por aquilo que Deus é, podemos ter um pouco de dificuldade, mas a Palavra do Senhor tem força. A palavra do outro pode passar pela falsidade, mas a Palavra de Deus não, pois é o Caminho. É como ir a um lugar sem ter um caminho a seguir, caso contrário,nos perderemos.
 Se quiser ser de Deus, terá que viver as duas vias do Senhor: ‘Amarás ao Senhor teu Deus e ao próximo como a ti mesmo’. O que você entende por esta palavra 'amor'?
É impressionante o quanto o amor de Deus nos toca. Os poetas sempre tentaram decifrar o amor, mas nunca conseguiram. Assim como Luiz de Camões em seu poema: ‘O amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer’. O amor não se poetiza. Quantas vezes sentimos o amor e não sabemos onde realmente dói? O amor é revelação, inauguração, tem o poder de ser novo com aquilo que estava velho.
Jesus sabe da capacidade de olhar as coisas miúdas da vida, as que não damos valor, e aquelas que ninguém havia visto antes. Colocando os pés no seguimento de Cristo, ouvimos a Palavra para olhar a vida diferente: ‘Amar a Deus sobre todas as coisas’. E o que significa amar o meu próximo? O que significa olhar para o meu irmão e saber que nele tem uma sacralidade que não posso violar? Como posso descobrir este convite de Deus de abrir os olhos às pessoas? No dia de hoje, lhe proponho que acabe com os 'achismos' do amor. Por muitas vezes, em nome do amor, nós fazemos absurdos: seqüestramos, matamos, fazemos guerra, criamos divisões.
A primeira coisa que Deus precisa curar é o que nós achamos do amor.
O amor nos dá uma força que nem nós mesmos sabíamos que tínhamos. É a capacidade que o amor tem de nos costurar. Quantas vezes olhamos para a objetividade do outro que nos motiva a sermos melhores. É o amor com suas clarezas e suas confusões.
Hoje tem um jeito comum de trazer o que você tem de mais precário em sua vida e dar ao outro. Muitas vezes em nome do amor tratamos as pessoas como ‘coisas’.
Quando Deus entra em nossa vida e entramos na vida de outras pessoas, temos que entrar como Deus, agregando valores. Caso contrário é melhor que eu fique de fora, porque você é um território que merece respeito.
Essa Palavra de Deus é comprometedora. É fazer as pessoas amarem a Jesus pelo seu testemunho, a partir do momento em que você permite transmiti-lo, nesta realidade do dia-a-dia, ao acordar e dormir.
Na passagem da sarça ardente (Ex 3,2ss ) Deus se manifesta em uma árvore que pega fogo mas não é consumida. Esse é o amor de Deus: Quanto mais nós amamos, mais somos consumimos, e se estamos esgotados é porque amamos ‘de menos’. Vamos ficando sem o vigor, mas a sarça queima sem se consumir. O fogo do amor não queima, pois é um fogo que faz outro fogo, e a experiência do amor de Deus é feita pelo amor de um para o outro. Amar o outro é levar prejuízo. Quantas vezes você passou noites inteiras acordadas pelo seu filho? Quanto sono perdido? Isso é por amor. Você vai saber o que é amor quando você se consome, mas não se esgota. Você nunca vai dizer que está cansado de amar o seu filho. Você está cansada dos problemas causados pelo filho, mas não de amá-lo.
Quantas pessoas que procuram e estão necessitadas do amor, mas em sua busca correndo atrás das micaretas e baladas? A busca do amor está aguçada. Está todo mundo querendo saber o que é o amor, e todos precisando de cura. Quantas pessoas foram amadas erroneamente, trazendo as marcas de um amor estragado.
Quando alguém nos ama com um amor estragado, só se percebe em longo prazo. Como comer uma comida podre que vai dar um problema sério no futuro. Aquele desaforo, aquela traição, aquela mentira e o que você fez com tudo aquilo? Como aquilo repercutiu em você? Aquela experiência ruim que sofreu, onde está?
Quando digo que amo a Deus, estou dizendo no avesso desta frase que amo a mim também. Nenhuma pessoa pode amar a Deus se não se ama. Nenhuma pessoa pode ter uma experiência com Deus se não for pelo amor a si próprio, pelo respeito por si mesmo. O amor a Deus passa o tempo todo pelo cuidado que eu tenho com a minha vida, com a minha história.
Deus nos quer cuidados. Você precisa redescobrir a graça de se amar. Quanto você se ama? O que você ainda espera de você mesmo? Como você ainda se cuida? O quanto você ama a Deus? O que você faz por Ele? Quanto do seu tempo dedica a Ele? As mesmas respostas das primeiras perguntas valem para as segundas. O tempo em que você se dedica a Deus dedica a você mesmo; pois a obra que Ele quer restaurada é você.
‘Se quiser entrar em minha vida retira as sandálias, pois esse solo é santo’. O amor que tenho a meu Deus é um amor a mim mesmo. Deus quer ser glorificado através de mim. Não haverá a possibilidade de sermos santos se não retirarmos de nós as 'podridões'. Tenha coragem de tirar as histórias do passado que doem e que você as carrega até o dia de hoje.
O alvo deste acampamento, não é o amor que você tem a Deus, mas é o amor que você tem a você mesmo, que é determinante para saber a sacralidade do outro. A gênese da nossa capacidade de amar o outro, está na incapacidade de não me amar. A conversão é um movimento contrário, para amar a si mesmo. É impossível uma pessoa que se ama se drogar, ou deixar outra pessoa jogar para dentro de si uma substância letal. Como sou capaz de amar o próximo como a mim mesmo, se ainda não me amo?
Faça caridade a você primeiro. Os seus amigos irão agradecer por você se amar. Quando o amor nos atinge, seremos mais felizes. Vamos experimentar da graça e dar a graça ao outro também. Um povo que se ama é um povo que sabe aonde vai. O amor a Deus e ao próximo é um amor a si mesmo. Eu ainda acredito no que Deus pode em mim. Volte a gostar de você!
(Pe.Fabio de Melo)
Fonte:www.cancaonova.com.br